Bons dias!
Óbvio - é o nosso Planeta.
1- "
UN BON MAITRE A CE SOUCI CONSTANT:
ENSEIGNER À SE PASSER DE LUI" (Gide)
Subitamente, porque obviamente, deparamos com a "pululação das inovações que se experimentaram nos nossos dias, e mais ainda daquelas que são propostas sem terem sido experimentadas"(PFE,p.99).
Não falta quem diga que tudo já foi dito e que o caos reina: o óbvio.
Umberto Eco escreveu
APOCALITTICI E INTEGRATI: apetece perguntar, no plano da língua, da literatura e da actividade educacionais:"APOCALITTICI OPPUR INTEGRATI?"
Com todos os ensaios e artigos escritos sobre Comunicações de Massa e Teorias da Cultura de Massa, dirige-se U.Eco ao editor Bompiani:"Benissimo, dice lui, come se intitola ? Beh, dico io, qualcosa come
Psicologia e Pedagogia delle Comunicazioni di Massa. Ma lei è matto - e aveva ragione,poverino. Diciamo allora: il problema della cultura di massa. Non mi faccia ridere.(È inutile, stavo sperimentando le leggi dell'industria culturale.) Bene, dice Bompiani, mi lasci rivedere i saggi. E va a cadere sull'ultima sezione, che raccoglieva articoli di giornali e che avevo intitolato "
Apocalittici e integrati". Ecco, fa Bompiani, ecco il titolo (come San Giuseppe quando il Re Magio inciampa, cade e bestemmia e lui dice 'ecco un bel nome per il bambino!'"(AI,p.XII). Óbvio ?
Ma lei è matto..., Non mi faccia ridere..., come San Giuseppe...! E aveva ragione !
Assim nasceu o título dessa obra que todos – hoje - já consideram um clássico da cultura contemporânea.
Não se pode escapar a certas realidades da História por mais cabais que venham a ser as explicações ulteriores. Isso mesmo:"é difícil não encontrar o arbitrário, mesmo a fantasia, na estrutura e funcionamento da natureza", escreveu François Jacob (JP,p.15). E do homem,obviamente.
Apocalípticos ou integrados ?
O prof.José Manuel Tribolet afirmou:"A instituição universitária portuguesa não mudou nada, absolutamente nada, nos últimos dez anos"(
DL,11/8/88,p.12).
Passaram vários anos, seria necessário perguntar ao professor se alguma coisa mudou.
Recorde-se que é a Universidade que forma cientificamente os professores; os professores do Ensino Secundário e, se queira ou não (porque óbvio), os professores do Ensino Superior. Terão tido sorte - na falta de uma resposta de Tribolet - os que frequentaram a Universidade nos últimos anos ? Dado que em diversos anos a Universidade não forma, cientificamente, um professor, então ainda não há professores desses.
Tribolet foi ainda mais claro: "O modelo de gestão das universidades é um
caos. As universidades e o sistema de ensino em geral não são geridos por objectivos.(....) A organização universitária é, do meu ponto de vista, um dos factores principais de atraso da sociedade portuguesa".
Se nos últimos anos as coisas não mudaram - perguntemos se em tantos anos é possível eliminar o caos.
O
atraso terá sido, foi já eliminado?
Contudo Tribolet tem uma solução: "Se nós hoje ensinássemos aos alunos aquilo que está no programa e eles aprendessem, o país já não era como é" (ibidem). Se...,se...se...!...
Aos que estudaram antes de 1988, a darmos crédito ao prof.Tribolet, não foi ensinado aquilo que está no programa e, naturalmente, os alunos não o aprenderam. Entretanto foram-se formando(cientificamente?) professores do Secundário e, se queira ou não (porque óbvio), do Superior. Os deste ensino terão, depois de 1988, ensinado aquilo que está(va)no programa ? Por mais que se queira, nenhuma resposta satisfatória pode ser dada.
Talvez...
Navegamos na incerteza: "
Franguntur remi; tum prora avertit et undis / Dat latus; insequitur cumulo praeruptus aquae mons./ Hi summo in fluctu pendent; his unda dehiscens / Terram inter fluctus aperit; furit aestus arenis "(ENeiade,I,104-107). O caos.
E os do Ensino Secundário? Retorquindo:“
Quantos montes,então, que derribaram / As ondas que batiam denodadas! /(....)/As forçosas raízes não cuidaram/ Que nunca pera o céu fossem viradas”(LUSíadas,VI,79).
Claro que "destini volubili ha la storia"(SDM,p.206). Mas isso não chega. Óbvio. Extravagantes ou integrados? Apocalittici oppur integrati? Não convém exagerar. É a resposta que convém: a quem convém?
A quem convinha? A quem conveio? A quem convirá?
Se esquadrinharmos as páginas dos jornais dos últimos anos e até os documentos oficiais, alguns deles emanados dos Ministérios da Educação portuguesa, verificamos que toda a gente se queixa das ruas da amargura que a Língua Portuguesa tem calcorreado:
" É raro o aluno da Universidade que sabe ler, quando muito, sabe soletrar e mal ", queixava-se Oscar Lopes no
Expresso de 20/08/83.
Do gabinete do Ministro da Educação brotou o Despacho nº215/84:"A análise, feita por responsáveis da problemática educativa e confirmada pela experiência quotidiana do comum dos cidadãos, das consequências a que levou, de há alguns anos a esta parte,
o declínio da qualidade do nosso ensino,[...], tem revelado, entre outras deficiências, uma que é grave e sintomática, pelas suas incidências negativas na formação da personalidade das nossas crianças e dos nossos jovens, bem como na própria identidade nacional:a degradação generalizada do conhecimento e da prática, tanto oral como escrita, da língua portuguesa[...]".
A Língua Portuguesa sofreu, tem sofrido e continua a sofrer tratos de polé.
Na História, nem tudo, e muito pouco do que é estruturalmente humano (e o "ensinar" é-o), nem tudo corre à velocidade do som ou das transformações tecnológicas: amadurecidas as condições, realizar-se-ão certamente as modificações. Obviamente, o despacho não resolveu a questão.
No "
DN",de 21-10/85, Fernando Cristovão,Presidende do ICALP, escrevia:"
A imaturidade de muitos mestres improvisados pôs de lado o ensino da gramática normativa para o substituir pelo das últimas novidades generativistas ou estruturalistas
isoladas do seu contexto e auditório específicos. Por isso assistimos, ao longo dos últimos anos, ao
enforcamento inglório de muitas ilusões e incompetências nas famosas árvores de Chomsky e ao abandono de áreas linguísticas que nunca deviam ter sido descuradas ".
Era de prever. Óbvio.
Por que motivo é que se criou a "cadeira" de "Técnicas de Expressão do Português" na Faculdade de Letras de Lisboa ? António José Saraiva, ali professor, respondeu que "por se ter verificado que os alunos admitidos na Faculdade(....) não sabiam redigir um simples aviso ou um mero recado e(que) davam erros de ortografia e de gramática próprios de analfabetos "(
Expresso,28/12/85).
Um ano ainda não decorrera, o mesmo A.J.Saraiva mimoseou-nos com a afirmação de que somos um país "onde há professores de Letras que não sabem escrever uma frase sem erros de gramática"(JL,nº210, 14 a 20/07/86).
Óbvio?
Agora – hoje, 2006-06-07 – haverá/há muitos licenciados e mestres e doutores “que não sabem escrever uma frase sem erros de gramática"? Óbvio?
E que não sabem falar/dizer uma frase sem erros de gramática?
– Esteja atento na rádio e na televisão e na imprensa escrita – e verá o nefasto óbvio.
Basta pensar no horror que é usar a 3ª pessoa do plural do verbo “haver”. Basta pensar numa simples frase com o verbo no presente do indicativo para se perceber que o plural é/está errado: diz-se “
Hão pessoas de sorte” ou “
Há pessoas de sorte”? Óbvio.
Leia o texto de SANDRA SILVA COSTA, Domingo, 3 de Março de 2002,
Público (sublinhados meus):
«Conferência ontem no Porto
Promotores do "Manifesto para a Educação da República" atribuem o
atraso do país à falta de educação científica de qualidade
Com apenas quatro anos de escolaridade, Michael Faraday conseguiu
ser "o maior físico do século XIX". A sorte de Faraday, que deu
importantes contributos para o estudo do electromagnetismo, foi ter
nascido num país - a Inglaterra - onde o sistema educativo já estava
minimamente desenvolvido. Em Portugal, tal não teria sido possível.
Por uma razão simples: "No século XIX, a nossa escola quase não
existia." A título de exemplo, veja-se que
só entre 1940 e 1970metade da população masculina ficou alfabetizada. E o grande
problema é que o regime democrático ainda não conseguiu livrar-se
"desta
herança trágica" que continua a atirar Portugal para
modestíssimas posições no "ranking" do desenvolvimento das nações.
Em traços gerais, foi esta a nota dominante da intervenção de Carlos
Fiolhais, professor de Física na Universidade de Coimbra e um dos
promotores do "Manifesto para a educação da República", no decorrer
da quarta conferência do ciclo "O estado do Estado", promovido pela
associação de estudantes da Faculdade de Economia da Universidade do
Porto, que teve lugar anteontem.
Carlos Fiolhais lembrou que em 1830 Portugal era um dos países mais
ricos do mundo, aparecendo à frente da Alemanha e da Noruega. "Já em
1970, o país está em último lugar numa lista de 20. Ficámos mais
pobres ao longo do século XIX porque do ponto de vista científico
não conseguimos acompanhar o salto que a Europa deu."
"Em maior ou menor grau,
tivemos sempre escola. O problema é que ela
não implicou a criação de saber", esclareceu Carlos Fiolhais. "Hoje
em dia não basta saber ler, escrever e contar. Para melhor
evoluirmos, falta-nos educação científica de grande alcance e
qualidade", rematou.
José Dias Urbano, outro dos mentores do manifesto, que já angariou
mais de 16 mil assinaturas, também aflorou o "pesado fardo do
atrasoeducativo" português, lembrando que o país continua "sem saber
produzir o quinhão" que lhe compete da riqueza que consome. E tudo
radica na qualidade da educação. "Se é pelo fruto que se conhecem as
árvores, em
matéria de educação Portugal encontra-se de facto muito
doente. Resta-nos a esperança que o reconhecimento da existência da
doença possa ser meio caminho para a cura", atirou.
Para José Dias Urbano, há uma pergunta-chave que deve ser levada em
conta: "Como é que se educa a si próprio, no exercício democrático
da sua soberania,
um povo maioritariamente iletrado e inculto?" Com
a colaboração "das elites intelectuais", como pretende demonstrar o
manifesto.
"
O sistema de ensino está muito doente. Não se chegou a este estado
por efeito de um acontecimento súbito de consequências desastrosas,
mas sim como resultado de uma sucessão regular de acções
disparatadas. Contribuamos com o nosso saber e com a nossa
consciência cívica para tornar impossível que tal continue a
acontecer", apelou ainda o também professor de Física.
No período dedicado ao debate, um docente afirmou que o manifesto
"vem aumentar a tendência dos portugueses para a lamentação", mas
não avança com a cura para os males que afectam a educação. Carlos
Fiolhais respondeu: "Não concordo que o manifesto seja derrotista,
penso é que faz um diagnóstico frio. Se é tomado como pessimista, é
porque a situação a isso obriga. Temos claramente um problema, e,
embora não explicitamente, estão lá indicadas as chaves para a sua
solução. Fala-se em qualidade, em esforço... E não nos podemos
esquecer que o silêncio às vezes diz tudo." »
Óbvio