quarta-feira, junho 21, 2006
Trabalho e zelo de ambos os lados
Bom dia!
Hoje, praticamente, todos (ou quase) têm acesso ao Ensino até à Universidade.
Em Portugal.
Que querem os alunos?
Aulas sérias, exigentes?
Não, não querem senão entretenimento: logo, as aulas são uma estopada.
Todos os alunos? Claro que não - e são poucos.
Motivação é a palavra de ordem - para os professores.
Portanto, os alunos querem entretenimento, passatempo.
Dado de facto: não se pode negar que o estudo é coisa séria e exigente.
Deste jogo franco os alunos não querem saber, preferem o jogo-jogo, a diversão: o facilitismo.
"Kalepa ta kala" disseram os Gregos, isto é, o belo é difícil. E o "belo", no contexto do ensino, é o estudo sério e consequente.
Quer para os alunos quer para os professores: sem trabalho e dedicação constantes e persistentes não há ensino que funcione e frutifique.
O professor é, por definição, um estudioso. O professor deve actualizar-se continuamente, sendo ele mesmo o exemplo vivo de estudante. Tem que ter o máximo de conhecimentos sobre a matéria que lecciona, dominá-la ao máximo.
Repetindo: O aluno é, por definição, um estudioso. O aluno deve actualizar-se continuamente, sendo ele mesmo o exemplo vivo de estudante. Tem que ter o máximo de conhecimentos sobre a matéria que vai aprendendo, dominá-la ao máximo.
Trabalho e zelo de ambos os lados.
Os alunos têm, hoje, interesses que não se harmonizam com trabalho e zelo que o estudo exige.
Bom dia !
"Em matéria de ensino, estamos em atraso sucessivo desde o tempo do Marquês de Pombal, aquando da reforma do ensino técnico. [...] Não podemos abrandar o ritmo, pois temos um passivo de 200 anos a recuperar. [...] o grande desafio que até hoje nunca foi equacionado convenientemente, e que tem de o ser, é o da educação PERMANENTE e ao longo da vida. (Expresso SuplementoEmprego, 24Fev2001,p.19,Roberto Carneiro)
O CONHECIMENTO é a chave de tudo
quarta-feira, junho 07, 2006
Bons dias!
Óbvio - é o nosso Planeta.
1- "UN BON MAITRE A CE SOUCI CONSTANT:
ENSEIGNER À SE PASSER DE LUI" (Gide)
Subitamente, porque obviamente, deparamos com a "pululação das inovações que se experimentaram nos nossos dias, e mais ainda daquelas que são propostas sem terem sido experimentadas"(PFE,p.99).
Não falta quem diga que tudo já foi dito e que o caos reina: o óbvio.
Umberto Eco escreveu APOCALITTICI E INTEGRATI: apetece perguntar, no plano da língua, da literatura e da actividade educacionais:"APOCALITTICI OPPUR INTEGRATI?"
Com todos os ensaios e artigos escritos sobre Comunicações de Massa e Teorias da Cultura de Massa, dirige-se U.Eco ao editor Bompiani:"Benissimo, dice lui, come se intitola ? Beh, dico io, qualcosa come Psicologia e Pedagogia delle Comunicazioni di Massa. Ma lei è matto - e aveva ragione,poverino. Diciamo allora: il problema della cultura di massa. Non mi faccia ridere.(È inutile, stavo sperimentando le leggi dell'industria culturale.) Bene, dice Bompiani, mi lasci rivedere i saggi. E va a cadere sull'ultima sezione, che raccoglieva articoli di giornali e che avevo intitolato "Apocalittici e integrati". Ecco, fa Bompiani, ecco il titolo (come San Giuseppe quando il Re Magio inciampa, cade e bestemmia e lui dice 'ecco un bel nome per il bambino!'"(AI,p.XII). Óbvio ?
Ma lei è matto..., Non mi faccia ridere..., come San Giuseppe...! E aveva ragione !
Assim nasceu o título dessa obra que todos – hoje - já consideram um clássico da cultura contemporânea.
Não se pode escapar a certas realidades da História por mais cabais que venham a ser as explicações ulteriores. Isso mesmo:"é difícil não encontrar o arbitrário, mesmo a fantasia, na estrutura e funcionamento da natureza", escreveu François Jacob (JP,p.15). E do homem,obviamente.
Apocalípticos ou integrados ?
O prof.José Manuel Tribolet afirmou:"A instituição universitária portuguesa não mudou nada, absolutamente nada, nos últimos dez anos"(DL,11/8/88,p.12).
Passaram vários anos, seria necessário perguntar ao professor se alguma coisa mudou.
Recorde-se que é a Universidade que forma cientificamente os professores; os professores do Ensino Secundário e, se queira ou não (porque óbvio), os professores do Ensino Superior. Terão tido sorte - na falta de uma resposta de Tribolet - os que frequentaram a Universidade nos últimos anos ? Dado que em diversos anos a Universidade não forma, cientificamente, um professor, então ainda não há professores desses.
Tribolet foi ainda mais claro: "O modelo de gestão das universidades é um caos. As universidades e o sistema de ensino em geral não são geridos por objectivos.(....) A organização universitária é, do meu ponto de vista, um dos factores principais de atraso da sociedade portuguesa".
Se nos últimos anos as coisas não mudaram - perguntemos se em tantos anos é possível eliminar o caos.
O atraso terá sido, foi já eliminado?
Contudo Tribolet tem uma solução: "Se nós hoje ensinássemos aos alunos aquilo que está no programa e eles aprendessem, o país já não era como é" (ibidem). Se...,se...se...!...
Aos que estudaram antes de 1988, a darmos crédito ao prof.Tribolet, não foi ensinado aquilo que está no programa e, naturalmente, os alunos não o aprenderam. Entretanto foram-se formando(cientificamente?) professores do Secundário e, se queira ou não (porque óbvio), do Superior. Os deste ensino terão, depois de 1988, ensinado aquilo que está(va)no programa ? Por mais que se queira, nenhuma resposta satisfatória pode ser dada.
Talvez...
Navegamos na incerteza: "Franguntur remi; tum prora avertit et undis / Dat latus; insequitur cumulo praeruptus aquae mons./ Hi summo in fluctu pendent; his unda dehiscens / Terram inter fluctus aperit; furit aestus arenis "(ENeiade,I,104-107). O caos.
E os do Ensino Secundário? Retorquindo:“Quantos montes,então, que derribaram / As ondas que batiam denodadas! /(....)/As forçosas raízes não cuidaram/ Que nunca pera o céu fossem viradas”(LUSíadas,VI,79).
Claro que "destini volubili ha la storia"(SDM,p.206). Mas isso não chega. Óbvio. Extravagantes ou integrados? Apocalittici oppur integrati? Não convém exagerar. É a resposta que convém: a quem convém?
A quem convinha? A quem conveio? A quem convirá?
Se esquadrinharmos as páginas dos jornais dos últimos anos e até os documentos oficiais, alguns deles emanados dos Ministérios da Educação portuguesa, verificamos que toda a gente se queixa das ruas da amargura que a Língua Portuguesa tem calcorreado:
" É raro o aluno da Universidade que sabe ler, quando muito, sabe soletrar e mal ", queixava-se Oscar Lopes no Expresso de 20/08/83.
Do gabinete do Ministro da Educação brotou o Despacho nº215/84:"A análise, feita por responsáveis da problemática educativa e confirmada pela experiência quotidiana do comum dos cidadãos, das consequências a que levou, de há alguns anos a esta parte, o declínio da qualidade do nosso ensino,[...], tem revelado, entre outras deficiências, uma que é grave e sintomática, pelas suas incidências negativas na formação da personalidade das nossas crianças e dos nossos jovens, bem como na própria identidade nacional:a degradação generalizada do conhecimento e da prática, tanto oral como escrita, da língua portuguesa[...]".
A Língua Portuguesa sofreu, tem sofrido e continua a sofrer tratos de polé.
Na História, nem tudo, e muito pouco do que é estruturalmente humano (e o "ensinar" é-o), nem tudo corre à velocidade do som ou das transformações tecnológicas: amadurecidas as condições, realizar-se-ão certamente as modificações. Obviamente, o despacho não resolveu a questão.
No "DN",de 21-10/85, Fernando Cristovão,Presidende do ICALP, escrevia:"A imaturidade de muitos mestres improvisados pôs de lado o ensino da gramática normativa para o substituir pelo das últimas novidades generativistas ou estruturalistas isoladas do seu contexto e auditório específicos. Por isso assistimos, ao longo dos últimos anos, ao enforcamento inglório de muitas ilusões e incompetências nas famosas árvores de Chomsky e ao abandono de áreas linguísticas que nunca deviam ter sido descuradas ".
Era de prever. Óbvio.
Por que motivo é que se criou a "cadeira" de "Técnicas de Expressão do Português" na Faculdade de Letras de Lisboa ? António José Saraiva, ali professor, respondeu que "por se ter verificado que os alunos admitidos na Faculdade(....) não sabiam redigir um simples aviso ou um mero recado e(que) davam erros de ortografia e de gramática próprios de analfabetos "(Expresso,28/12/85).
Um ano ainda não decorrera, o mesmo A.J.Saraiva mimoseou-nos com a afirmação de que somos um país "onde há professores de Letras que não sabem escrever uma frase sem erros de gramática"(JL,nº210, 14 a 20/07/86).
Óbvio?
Agora – hoje, 2006-06-07 – haverá/há muitos licenciados e mestres e doutores “que não sabem escrever uma frase sem erros de gramática"? Óbvio?
E que não sabem falar/dizer uma frase sem erros de gramática?
– Esteja atento na rádio e na televisão e na imprensa escrita – e verá o nefasto óbvio.
Basta pensar no horror que é usar a 3ª pessoa do plural do verbo “haver”. Basta pensar numa simples frase com o verbo no presente do indicativo para se perceber que o plural é/está errado: diz-se “Hão pessoas de sorte” ou “Há pessoas de sorte”? Óbvio.
Leia o texto de SANDRA SILVA COSTA, Domingo, 3 de Março de 2002, Público (sublinhados meus):
«Conferência ontem no Porto
Promotores do "Manifesto para a Educação da República" atribuem o
atraso do país à falta de educação científica de qualidade
Com apenas quatro anos de escolaridade, Michael Faraday conseguiu
ser "o maior físico do século XIX". A sorte de Faraday, que deu
importantes contributos para o estudo do electromagnetismo, foi ter
nascido num país - a Inglaterra - onde o sistema educativo já estava
minimamente desenvolvido. Em Portugal, tal não teria sido possível.
Por uma razão simples: "No século XIX, a nossa escola quase não
existia." A título de exemplo, veja-se que só entre 1940 e 1970
metade da população masculina ficou alfabetizada. E o grande
problema é que o regime democrático ainda não conseguiu livrar-se
"desta herança trágica" que continua a atirar Portugal para
modestíssimas posições no "ranking" do desenvolvimento das nações.
Em traços gerais, foi esta a nota dominante da intervenção de Carlos
Fiolhais, professor de Física na Universidade de Coimbra e um dos
promotores do "Manifesto para a educação da República", no decorrer
da quarta conferência do ciclo "O estado do Estado", promovido pela
associação de estudantes da Faculdade de Economia da Universidade do
Porto, que teve lugar anteontem.
Carlos Fiolhais lembrou que em 1830 Portugal era um dos países mais
ricos do mundo, aparecendo à frente da Alemanha e da Noruega. "Já em
1970, o país está em último lugar numa lista de 20. Ficámos mais
pobres ao longo do século XIX porque do ponto de vista científico
não conseguimos acompanhar o salto que a Europa deu."
"Em maior ou menor grau, tivemos sempre escola. O problema é que ela
não implicou a criação de saber", esclareceu Carlos Fiolhais. "Hoje
em dia não basta saber ler, escrever e contar. Para melhor
evoluirmos, falta-nos educação científica de grande alcance e
qualidade", rematou.
José Dias Urbano, outro dos mentores do manifesto, que já angariou
mais de 16 mil assinaturas, também aflorou o "pesado fardo do atraso
educativo" português, lembrando que o país continua "sem saber
produzir o quinhão" que lhe compete da riqueza que consome. E tudo
radica na qualidade da educação. "Se é pelo fruto que se conhecem as
árvores, em matéria de educação Portugal encontra-se de facto muito
doente. Resta-nos a esperança que o reconhecimento da existência da
doença possa ser meio caminho para a cura", atirou.
Para José Dias Urbano, há uma pergunta-chave que deve ser levada em
conta: "Como é que se educa a si próprio, no exercício democrático
da sua soberania, um povo maioritariamente iletrado e inculto?" Com
a colaboração "das elites intelectuais", como pretende demonstrar o
manifesto.
"O sistema de ensino está muito doente. Não se chegou a este estado
por efeito de um acontecimento súbito de consequências desastrosas,
mas sim como resultado de uma sucessão regular de acções
disparatadas. Contribuamos com o nosso saber e com a nossa
consciência cívica para tornar impossível que tal continue a
acontecer", apelou ainda o também professor de Física.
No período dedicado ao debate, um docente afirmou que o manifesto
"vem aumentar a tendência dos portugueses para a lamentação", mas
não avança com a cura para os males que afectam a educação. Carlos
Fiolhais respondeu: "Não concordo que o manifesto seja derrotista,
penso é que faz um diagnóstico frio. Se é tomado como pessimista, é
porque a situação a isso obriga. Temos claramente um problema, e,
embora não explicitamente, estão lá indicadas as chaves para a sua
solução. Fala-se em qualidade, em esforço... E não nos podemos
esquecer que o silêncio às vezes diz tudo." »
Óbvio
terça-feira, junho 06, 2006
Bons Dias!
É a NOVA Biblioteca de Alexandria
Hipácia de Alexandria(c. 370 d.C - 415 d.C)
"Todas as religiões dogmáticas formais são falaciosas e nunca devem ser aceitas como palavra final por pessoas que respeitem a si mesmas."
"Ensinar superstições como uma verdade absoluta é uma das coisas mais terríveis."
A cidade de Alexandria foi fundada por Alexandre, o Grande, no ano de 332 a.C, e logo se tornou o principal porto do norte do Egito. Localizada no delta do rio Nilo, numa colina que separa o lago Mariotis do mar Mediterrâneo, foi o principal centro comercial da Antigüidade. Seu porto foi construído com um imponente quebra-mar que chegava até a ilha de Faros, onde foi erguido o famoso Farol de Alexandria, uma das Sete Maravilhas do Mundo Antigo.
Sua localização privilegiada, na encruzilhada das rotas da Ásia, da África e da Europa, transformou a cidade num lugar ideal para concentrar a arte, a ciência e a filosofia do Oriente e do Ocidente.
A Biblioteca de Alexandria foi construída por Ptolomeu I Soter no século IV a.C, e elevou a cidade ao nível de importância cultural de Roma e Atenas. De fato, após a queda do prestígio de Atenas como centro cultural, Alexandria tornou-se o grande polo da cultura helenística. Todo manuscrito que entrava no país (trazido por mercadores e filósofos de toda parte do mundo) era classificado em catálogo, copiado e incorporado ao acervo da biblioteca. No século seguinte à sua criação, ela já reunia entre 500 mil e 700 mil documentos. Além de ser a primeira biblioteca no sentido que conhecemos, foi também a primeira universidade, tendo formado grandes cientistas, como os gregos Euclides e Arquimedes.
Os eruditos encarregados da biblioteca eram considerados os homens mais capazes de Alexandria na época. Zenódoto de Éfeso foi o bibliotecário inicial e o poeta Calímaco fez o primeiro catálogo geral dos livros. Seus bibliotecários mais notáveis foram Aristófanes de Bizâncio (c. 257-180 a.C) e Aristarco da Samotrácia (c. 217-145 a.C).
Hipácia foi a última grande cientista de Alexandria. Nasceu em 370 d.C (?) -- os historiadores são incertos em diferentes aspectos da vida de Hipácia e a data de seu nascimento é debatida atualmente. Foi filha de Theon, um renomado filósofo, astrônomo, matemático e autor de diversas obras, professor da Universidade de Alexandria.Durante toda a sua infância, Hipácia foi mantida por seu pai em um ambiente de idéias e filosofia. Alguns historiadores acreditam que Theon tentou educá-la para ser um ser humano perfeito. Hipácia e Theon tiveram uma ligação muito forte e este ensinou a ela seu próprio conhecimento e compartilhou de sua paixão na busca de respostas sobre o desconhecido. Quando estava ainda sob a tutela e orientação do seu pai, ingressou numa disciplinada rotina física para assegurar um corpo saudável para uma mente altamente funcional.
Hipácia estudou matemática e astronomia na Academia de Alexandria. Devorava conhecimento: filosofia, matemática, astronomia, religião, poesia e artes. A oratória e a retórica, com grande importância na aceitação e integração das pessoas na sociedade da época, também não foram descuidadas. No campo religioso, Hipácia recebeu informação sobre todos os sistemas de religião conhecidos, tendo seu pai assegurado que nenhuma religião ou crença lhe limitasse a busca e a construção do seu próprio conhecimento.
Quando adolescente, viajou para Atenas para completar sua educação na Academia Neoplatônica, com Plutarco. A notícia se espalhou sobre essa jovem e brilhante professora, e quando regressou já havia um emprego esperando por ela, para dar aulas no museu de Alexandria, juntamente com aqueles que haviam sido seus professores.
Hipácia é um marco na História da Matemática que poucos conhecem, tendo sido equiparada a Ptolomeu (85 - 165), Euclides (c. 330 a. C. - 260 a. C.), Apolônio (262 a. C. - 190 a. C), Diofanto (século III a. C.) e Hiparco (190 a. C. - 125 a. C.).Seu talento para ensinar geometria, astronomia, filosofia e matemática atraía estudantes admiradores de todo o império romano, tanto pagãos como cristãos.
Aos 30 anos tornou-se diretora da Academia de Alexandria. Do seu trabalho, infelizmente, pouco chegou até nós. Alguns tratados foram destruídos com a Biblioteca, outros quando o templo de Serápis foi saqueado. Grande parte do que sabemos sobre Hipácia vem de correspondências suas e de historiadores contemporâneos que dela falaram. Um notável filósofo, Sinesius de Cirene (370 - 413), foi seu aluno e escrevia-lhe freqüentemente pedindo-lhe conselhos sobre o seu trabalho. Através destas cartas ficou-se a saber que Hipácia inventou alguns instrumentos para a astronomia (astrolábio e planisfério) e aparelhos usados na física, entre os quais um hidrômetro.
Sabemos que desenvolveu estudos sobre a Álgebra de Diofanto ("Sobre o Canon Astronômico de Diofanto"), que escreveu um tratado sobre as seções cônicas de Apolônio ("Sobre as Cônicas de Apolônio") e alguns comentários sobre os matemáticos clássicos, incluindo Ptolomeu. E em colaboração com o seu pai, escreveu um tratado sobre Euclides.
Ficou famosa por ser uma grande solucionadora de problemas. Matemáticos que haviam passado meses sendo frustrados por algum problema em especial escreviam para ela pedindo uma solução. E Hipácia raramente desapontava seus admiradores. Ela era obcecada pela matemática e pelo processo de demonstração lógica. Quando lhe perguntavam porque nunca se casara ela respondia que já era casada com a verdade.
A tragédia de Hipácia foi ter vivido numa época de luta entre o paganismo e o cristianismo, com este a tentar apoderar-se dos centros importantes então existentes. Hipácia era pagã, fato normal para alguém com os seus interesses, pois o saber era relacionado com o chamado paganismo que dominou os séculos anteriores e era alicerçado nas tradições de liberdade de pensamento.
O cristianismo foi oficializado em 390 d.C, e o recém nomeado chefe religioso de Alexandria, o bispo Cirilo, dispôs-se a destruir todos os pagãos assim como seus monumentos e escritos.
Por causa de suas idéias científicas pagãs, como por exemplo a de que o Universo seria regido por leis matemáticas, Hipácia foi considerada uma herética pelos chefes cristãos da cidade. A admiração e proteção que o político romano Orestes dedicou a Hipácia pouco adiantou, e acirrou ainda mais o ódio do bispo Cirilo por ela e, quando este tornou-se patriarca de Alexandria, iniciou uma perseguição sistemática aos seguidores de Platão e colocou-a encabeçando a lista.
Assim, numa tarde de 415 d.C, a ira dos cristãos abateu-se sobre Hipácia. Quando regressava do Museu, foi atacada em plena rua por uma turba de cristãos enfurecidos, incitados e comandados por "São" Cirilo. Arrastada para dentro de uma igreja, foi cruelmente torturada até a morte e ainda teve seu corpo esquartejado (dilacerado com conchas de ostra, ou cacos de cerâmica, consoante as versões existentes) e queimado.O historiador Edward Gibbon faz um relato vívido do que aconteceu depois que Cirilo tramou contra Hipácia e instigou as massas contra ela: "Num dia fatal, na estação sagrada de Lent, Hipácia foi arrancada de sua carruagem, teve suas roupas rasgadas e foi arrastada nua para a igreja. Lá foi desumanamente massacrada pelas mãos de Pedro, o Leitor, e sua horda de fanáticos selvagens. A carne foi esfolada de seus ossos com ostras afiadas e seus membros, ainda palpitantes, foram atirados às chamas".
O estúpido episódio da morte de Hipácia é considerado um marco do fim da tradição de Alexandria como centro de ciências e cultura. Pouco depois, a grande Biblioteca de Alexandria seria destruída e muito pouco do que foi aquele grande centro de saber sobreviveria até os dias de hoje.
Enrico Riboni descreve os motivos e as conseqüências dessa ação fanática dos religiosos: "a brilhante professora de matemática representava uma ameaça para a difusão do cristianismo, pela sua defesa da Ciência e do Neoplatonismo. O fato de ela ser mulher, muito bela e carismática, fazia a sua existência ainda mais intolerável aos olhos dos cristãos. A sua morte marcou uma reviravolta: após o seu assassinato, numerosos pesquisadores e filósofos trocaram Alexandria pela Índia e pela Pérsia, e Alexandria deixou de ser o grande centro de ensino das ciências do mundo antigo.
Além do mais, a Ciência retrocederá no Ocidente e não atingirá de novo um nível comparável ao da Alexandria antiga senão no início da Revolução Industrial. Os trabalhos da Escola de Alexandria sobre matemática, física e astronomia serão preservados, em parte, pelos árabes, persas, indianos e também chineses. O Ocidente, pelo seu lado, mergulhará no obscurantismo da Idade Média, do qual começará a sair somente mais de um milênio depois.
Em reconhecimento pelos seus méritos de perseguidor da comunidade científica e dos judeus de Alexandria, Cirilo será canonizado e promovido a Doutor da Igreja, em 1882."
E Carl Sagan nos acrescenta: "Há cerca de 2000 anos, emergiu uma civilização científica esplêndida na nossa história, e sua base era em Alexandria. Apesar das grandes chances de florescer, ela decaiu. Sua última cientista foi uma mulher, considerada pagã. Seu nome era Hipácia. Com uma sociedade conservadora à respeito do trabalho da mulher e do seu papel, com o aumento progressivo do poder da Igreja, formadora de opiniões e conservadora quanto à ciência, e devido à Alexandria estar sob domínio romano, após o assassinato de Hipácia, em 415, essa biblioteca foi destruída. Milhares dos preciosos documentos dessa biblioteca foram em grande parte queimados e perdidos para sempre, e com ela todo o progresso científico e filosófico da época."
Francisco Saiz, julho de 2002 (Fonte: WWW)
(Fonte )
quarta-feira, maio 24, 2006
sexta-feira, maio 12, 2006
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